12 de maio de 2012

Drama...

Os buracos são sítios onde as nossas angústias e medos residem conjuntamente com os nossos piores pesadelos. Julgo que foi neste sítio onde caí ontem à noite depois de um dia cinzento. Apesar de ter tido um jantar feliz, com uma Família serena, simpática, amiga, companheira, o regresso a casa foi de tormenta.
Há muitos anos atrás, quando ainda era criança, os meus pilares eram a família, a escola (com tudo o que isso traz) e a religião. E eu sentia-me plena, preenchida em todos estes campos. Mais tarde, os meus pilares alteraram-se com o crescimento que a própria vida me consagrou, mas eu era feliz com todos eles: a escola, a família e os amigos. Quando fui viver sozinha, redefini prioridades: a escola, o trabalho e a família eram as fundações da minha casa e todos eles estavam bem sólidos e todos me preenchiam.
Depois veio o desemprego. Porquê? Uma profissional dedicada, modelo entre os seus pares, que dava o que tinha de si em cada situação, que operacionalizava, mas que tinha a capacidade de planear dando uma visão integrada do que se pretendia era basicamente o que era dito de mim. E então? Mudei alguma coisa que posssibilitasse não ser a melhor entre os pares??? Não.... Apenas tinha de haver cortes. Chamam-se restrições orçamentais. Tudo bem, concordo que assim seja, pelo bem do país. Mas se vamos cortar, então porquê substituir uma técnica que era descrita desta forma, por outra que fica a ganhar ainda mais por mês??? Com o tempo vieram também as respostas, e a revolta... Não sou sobrinha de ninguém quando falamos de A, não sou amiga de ninguém quando falamos de B, não sou sobrinha-neta como C (atenção: sobrinha-neta de alguém extremamente importante na revolução dos cravos, num contexto de direcção política de esquerda)... ... Ok, alguém (ou alguéns) tem de rever os critérios de gestão de recursos humanos! As restrições orçamentais obrigam a que a técnica que assegura dois serviços essenciais, mais alguns nas suas horas livres (extra e não remuneradas) vai para casa.
Fui.
E tudo isto, na noite passada me veio à memória. A tormenta dos meus dias é não conseguir ser a profissional que era, o que faz com que a minha casa desmorone. O pilar do trabalho ruiu com as "restrições orçamentais". Por conseguinte, os planos de fazer crescer a família (coisa que já não andava a correr bem) ficaram indefinidamente adiados. Ninguém contrata ninguém, e muito menos, no contexto actual se contrata uma grávida ou uma recém mamã. O segundo pilar, da família, ficou frágil. O pilar da vida que era a formação, a contínua aprendizagem ruiu. Não tenho dinheiro para estudar, para procurar as formações que tanto alento me davam fazer à sexta-feira à noite depois de uma semana intensa de trabalho... Aliás, às vezes não há dinheiro para o supermercado, para o gasóleo do carro... a formação deixou de ser prioritária...
Seguindo para o pilar dos amigos. Este também abalou... O facto de tudo o resto estar de pernas para o ar, no meu caso, afasta-me de todos. É difícil assumir estas dificuldades perante as pessoas que nos viam como um exemplo. É socialmente difícil assumir que estamos em baixo. E mesmo quando ganhamos coragem para o fazer, ou simplesmente já não o conseguimos esconder mais, então aí, tudo se revela. São poucos os que ficam. Ficam apenas os Amigos.
E no meio disto tudo, a família de sangue. Que não percebendo o meu distanciamento, e envolvida nas suas próprias teias de problemas se afasta. Uma semana sem um telefonema??? Sinto-me como se fosse a leprosa do séc. XVIII que tem de ser escondida da sociedade, para não causar embaraço....
Desculpem o drama. Mas ontem disseram-me que já não actualizava o blogue. Têm razão. Eis o porquê: porque gosto de escrever sobre o que sinto. E o que sinto hoje, que é o que tenho sentido nos últimos meses é apenas isto: drama.