2 de junho de 2011

"É da cor do sangue"

Meus amigos:
há algumas semanas atrás despedi-me, com um até logo, de um grande amigo que partiu para a Guiné Conacri. A busca por melhores condições de vida, por um trabalho que nos realize empurra-nos (a nós geração "à rasca", ou como outros lhe apelidaram "geração rasca") para longe das nossas casas, dos nossos haveres, mas acima de tudo para longe das nossas famílias e amigos. O É. não foi caso distinto. Adoro-o de coração e é sempre com tristeza que o vejo partir, embora o perceba... Antes de se ir embora, pedi-lhe que me dissesse se de facto a terra lá é vermelha. Respondeu-me com: "é da cor do sangue".
Há algum tempo atrás candidatei-me para uma oferta de emprego público, para a qual fiquei classificada em 2º lugar. Tratava-se da gestão de um projecto QREN na área do desenvolvimento da cultura avieira. Para esse concurso, li tudo o que encontrei sobre os Avieiros.
Os Avieiros mais não do que os ciganos do rio Tejo, ou seja, os que vinham da zona da Vieira de Leiria e viviam dentro de pequenos barcos pelo Tejo fora procurando o sustento na captura de peixe.
Hoje, esta geração que tantos apelidam de rasca, são nem mais nem menos do que os Avieiros dos tempos modernos. É assim que me sinto, todos os dias... Uma Avieira a lutar pelo sustento da minha família, longe dos meus e da terra que me viu nascer.
Por muitos bons amigos que façamos ao longo desta caminhada, nunca deixamos de estar desenraízados.
Por muito bem que nos integremos na sociedade local onde nos encontramos, nunca deixamos de ser "os de fora".
O É. foi descobrir que a cor da terra na Guiné Conacri é igual à cor do sangue. Um beijo e um abraço profundo, já com saudades para este Avieiro dos tempos modernos.

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